Certa vez, pouco depois de eu ter chegado ao ashram, o Mestre levou alguns de nós à praia de Santa Mônica. Era de manhã bem cedo, ele quis sentar-se na praia e meditar ao nascer do sol, como é comum na Índia. Nós não levamos nada para forrar o chão para sentarmos, nós simplesmente achamos um lugar na areia e começamos a meditar. Pouco tempo depois nós fomos molestados pelas pulgas de areia. Suas mordidas eram terríveis! Eu abri os olhos e fitei o Mestre.
As pulgas estavam fervilhando sobre ele também, mas ele não movia um músculo. Sua respiração estava silenciosa, sua mente estava além da consciência do corpo. Seu exemplo despertou em mim a grande determinação de que eu não me moveria, não importando quão forte a necessidade de afastar de mim aqueles insetos infernais. Nos primeiros minutos foi um pesadelo, mas eu continuei. Recusando- me a desistir, minha consciência foi se aprofundando interiormente, tornando-se tão absorvida no pensamento de Deus que as sensações externas cessaram. Uma hora se passou e finalmente o Mestre disse: “Ok, vamos agora”. Embora as pulgas não tivessem cedido, eu estava cheia de paz e de uma profunda alegria: “Ah, hoje ele me mostrou a maneira de vencer”.
Alguns diriam que isso é fanatismo. Não é. É o tipo de determinação pelo qual se desenvolve o poder mental, que é o caminho da perfeita liberdade neste mundo.
Anos mais tarde, durante uma de minhas viagens à Índia, eu visitei o ashram de Ananda Moy Ma. Um grupo de seus seguidores tinha se reunido para uma cerimônia especial com a Mãe, e nós estávamos todos sentados num chão de cimento. Eu comecei a meditar. Após algum tempo minhas pernas ficaram dormentes e meus tornozelos ficaram doloridos, mas eu disse a mim mesma: “Você não vai deixar nada atrapalhar sua comunhão interior”. Eu me sentei naquele cimento duro por pelo menos três horas – foi uma de minhas meditações mais profundas na Índia. Mais tarde eu ouvi Ananda Moy Ma dizer a seus discípulos – “olhem para Daya Ma, esta é a maneira de meditar, vejam o que ela aprendeu com seu Guru”.
Isto não é para me gabar, mas simplesmente para despertar em vocês um entusiasmo maior para praticar o que o Mestre ensinou. Vocês podem pensar: “Bem, Daya Ma teve o benefício do treinamento pessoal do Guru. Não é de admirar que ela pudesse fazer isso”. Falso raciocínio! Pensem no exemplo de São Francisco. Embora ele tenha vivido doze séculos depois de Jesus, ele foi um dos maiores exemplos dos ensinamentos de seu Guru. Sua inteira existência foi imersa em Cristo, e todas as noites, em suas meditações, Cristo vinha a ele. Um verdadeiro Guru está sempre vivo. Se você praticar com zelo os ensinamentos de um verdadeiro Guru e cultivar fé em sua orientação, você realizará esta verdade em si mesmo.
Sri Daya Mata